terça-feira, 12 de dezembro de 2006

O entardecer.

São 15h e no momento em que escrevo este texto, passa precisamente uma semana desde que o meu primeiro romance foi editado, intitula-se "A roda dos tristes", um pouco contra a minha vontade, mas não sei porquê o meu editor conseguiu convencer-me que o nome iria atrair a atenção de mais gente, concordei pois parece-me um homem razoavelmente inteligente e que percebe bastante acerca deste caótico mundo literário. Numa análise geral o livro aborda as rotinas das pessoas e da "tendência para a depressão em espiral na vida urbana", inicialmente pareceu-me um pouco abstracto demais e que as pessoas nao teriam nem tempo, nem paciência para ler os devaneios existenciais de um novato nestas andanças mas, para minha surpresa o livro tem tido boas criticas o que nao é nada mau para um primeiro romance. Para espanto meu, comentam que o livro tem um final feliz, nao sei se será bem um final feliz, mas tendo como pano de fundo a espiral individualistica da vida urbana é fácil de constatar que a maioria das pessoas tenta sempre encontrar algo de bom no meio do caos e da confusão.

Agora que vejo esta obra editada nao posso deixar de pensar que escrever sempre foi o que quis ainda que seja dificil para alguém se lançar neste oficio, mas confesso que o facto de ter escrito alguns textos para teatro com relativo sucesso me deu algum desafogo, financeiramente falando claro, o que me dá liberdade suficiente para não ter que me preocupar em coleccionar empregos e prendendo-me a ocupações desprovidas de qualquer significado, penso naqueles que trabalham em trabalhos que não lhes dizem nada e não me contenho em esboçar um sorriso a pensar na sorte que tenho, e ainda há o bónus de poder trabalhar no sossego da minha casa, na companhia da chavena de café e de um bom CD. É bom ter tudo controlado e saber que a vida corre bem.

Sossego apenas quebrado pelas noites em que recebo a rapaziada para jantaradas e maratonas de cinema, o que me faz lembrar que esta noite os recebo e que ainda tenho a casa para deixar minimamente decente. Se há coisa que detesto fazer é arrumar a casa, definitivamente nao nasci para arrumações e, infelizmente a minha mãe já cá nao está para dar uma ajudinha. No meio das arrumações encontro um álbum de fotografias, começo a folheá-lo e logo me apercebo que se tratam de fotografias de à 10anos atrás quando costumávamos passar as férias numa terreola para os lados de Trás-os-Montes, lembro-me de lá passar belos verões, os jogos de futebol na rua, os banhos nas ribeiras, as bebedeiras na praça da aldeia e as tardes de pancadaria com o pessoal da aldeia vizinha já não me lembro bem porquê...ah! relembro-me agora do nome da aldeia, "Montanelas", e dos trocadilhos que fazíamos, "só lá iamos montar nelas!!", tudo isto na companhia das amizades de verão que com o passar do tempo vão perdendo fulgor fruto do tempo e da distância, bons tempos, boa gente.

Imerso nas lembranças da juventude dou por mim com a casa inteira por arrumar, a nova peça de teatro que tenho entre mãos para acabar, e as compras para o jantar por fazer. São 19h, saio para a rua, uma lufada de ar gelado bate-me na cara e não consigo deixar de pensar o quão é entediante ter que fazer coisas que no fundo nao me suscitam interesse nenhum.