quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Prólogo

O relógio marca 7h da manhã, daqui a 30 minutos começa o meu dia, penso. O dia nasce triste, anunciando a chuva que aí vem, mas também antevendo o caos, a confusão e perda de identidade resultante da vida na cidade.
Vinte e sete anos passaram desde que aqui nasci e cresci, em Lisboa. Baptizado Adamastor, em homenagem ao temível e imaginário monstro daquela que é incontestavelmente a maior história de ficção alguma vez escrita neste país à beira mar plantado, os Lusíadas. Por estes dias ainda vivo na mesma casa que pertenceu a meus pais, cansados da vida urbana decidiram mudar de ares e habitam numa casa algures no litoral alentejano. Nos dias que correm dedico-me à escrita, ofício que escolhi para perpetuar o meu nome na cultura literária deste País e claro, em busca do romance que me imortalizará literariamente, apesar dos meus pais terem desejado que enveredasse por uma carreira no ramo da engenharia civil, decidi ignorá-los argumentando que a engenharia civil não era para mim, por achar que a grande maioria é incompetente e que provocam inúmeros acidentes.
Confesso que a carreira de escritor vai curta, apenas tendo escrito alguns textos para peças de teatro com relativo sucesso, mas a partir deste dia tudo vai mudar, porque é hoje que é publicada a minha primeira obra literária, não será propriamente uma "masterpiece" mas dêm-me tempo, como dizem os antigos, "a paciência é uma virtude" e tudo na vida tem recompensa. Ok, quase tudo, mas no meu caso gosto de pensar que sim, até porque tudo depende de quem lê.
São 7h30, o relógio toca. O dia amanhece triste e chuvoso, anunciando o que está para vir, o caos, a confusão, o desentendimento, a constante individualização do ser face à vida em sociedade, enfim, a vida na grande cidade. Pergunto-me quando irão mudar as coisas, gostava de contribuir para essa mudança.
O relógio marca 8h30 e enquanto ponho os auscultadores, mergulhando na minha individualidade, esqueço tudo o que pensei e preparo-me para as vicissitudes da cidade.